quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Proibição

“Caçadas de Pedrinho” pode ser proibido nas escolas.
O livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, pode ser proibido nas escolas públicas do país. Segundo o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), a obra, um clássico da literatura infantil, contém expressões racistas. Para o autor da denúncia, o mestrando em relações raciais da UnB Antonio Gomes da Costa Neto, o livro de Lobato não respeita as regras de políticas públicas para relações etno-raciais e tem potencial para ensinar as crianças a serem racistas.
Bom, poderia ser pior, o livro poderia estar sendo banido por tratar de caçadas ou outro motivo ecológico, já que estamos vivendo os tempos de preservação ao meio ambiente.
Publicado em 1933, a obra narra uma aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo na procura de uma onça pintada. Dona Benta conta histórias fictícias e as crianças do Sítio são as personagens dessas histórias. Ao longo do livro, os leitores são apresentados aos mitos do folclore brasileiro como saci, curupira, mula sem cabeça – todos portadores de necessidades especiais e que também podem ser banidos do universo infantil caso algum mestre identifique preconceito na citação.
No parecer do CNE, o racismo está na abordagem da personagem Tia Anastácia e de animais como o urubu e o macaco. Um dos trechos citados na argumentação é: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão". Outro diz: Não é a toa que macacos se parecem tanto com os homens. “Só dizem bobagens.” Importante lembrar que o livro, como todo produto cultural, recebeu influências do pensamento de sua época. Assim, num momento histórico em que o racismo era visto de outra forma, é compreensível que o texto tenha algumas frases que incomodem nos dias de hoje. Ainda mais quando estão descontextualizadas. O tema racial, é bom se diga, nunca foi o tema central dessa obra que chegou a ser classificada de “comunista” pelo padre jesuíta Sales Brasil, em 1959.
Na época, “Caçadas de Pedrinho” se tornou uma critica a burocracia estatal, pois trazia em sua segunda parte a história do rinoceronte Quindim, que escapou de um circo e abrigou no Sítio. Para localizá-lo, o governo criou um “Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte”, com chefes, 12 auxiliares, datilógrafos, secretários todos muito bem remunerados que não se esforçam para encontrar o rinoceronte porque não querem ficar desempregados.
As escolas e professores, com algumas exceções, abdicaram de influenciar o gosto e o hábito de leitura dos estudantes há muito tempo. Aliás, basta um livro estar na lista de leitura obrigatória para que caia em desgraça, no que diz respeito às preferências juvenis. Quem sabe, sendo proibido, o livro volte a ser sucesso. Crianças adoram coisas proibidas.

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