Eu creio em Anjos quer voem ou não sobre Berlim. Sei que em mim pensam, me protegem, me sorriem, me aparam alguma lágrima su viso, pois se tu és um, testado no que afirmo como não acreditar na santidade que é o amor que nada pede, tudo dá tudo oferece, com sutileza... Há anjos? Há, sim, há anjos de verdade.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
AMOR MENINO
Pe. Antônio Vieira
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado mais continuadas, tanto menos unidas.
Por isso, os antigos sabiamente pintaram o amor menino, por que não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê quem não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda essa diferença é pequena.
O tempo tira a novidade das coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usados para não serem os mesmos. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor. O mesmo amor é causa de não amar e o ter amado muito, de amar a menos.
* Fragmento de um dos mais lindos textos da literatura portuguesa.
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