quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Tempo


Nunca o fator tempo foi tão questionado, aliás, a falta dele. As obrigações diárias nos transformam em formigas laboriosas sempre em busca de soluções materiais para suprir as dificuldades do tenebroso inverno que nos ameaça a cada manhã, seja ela cinzenta ou ensolarada.
Nosso lado prático e ganancioso nos obriga a carregar um talo de grama bem maior que a nossa força, esmagando nosso lado cigarra.
Nunca temos tempo. Para ser e até para não ser. Para arrumar ou desarrumar.
Nunca temos tempo. Para trabalhar ou rever amigos ou descansar e desfrutar as distrações. O tempo de férias não conta, é um tempo planejado, que mais se assemelha a um trabalho free lancer do que a uma espontânea inquietação. Viagem, pagar as contas com antecedência, procurar alguém para cuidar da casa, do cachorro, manter a água das plantas...
Não temos tempo a perder, muito menos a ganhar. Meu tempo transformou-se curiosamente na minha falta de tempo. Sempre me desculpando, sempre alegando algum outro compromisso. Ainda mais para quem não aprendeu a dizer não. Eu desmarco, não nego nada. O constrangimento de cancelar algo me transtorna. Fico dias sem dormir aventando perdões absurdos.
Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único. Estar apaixonado. Esquecer de si para inventar o desejo. O desejo transforma-se no próprio tempo. Tudo é adiado. A dispersão nos leva a reparar nas janelas, nos interruptores, nos sapatos dos colegas. Nada mais tem tanto significado do que se aprontar, ensaiar e aguardar perfumado o encontro. Compromissos sérios pulam de casas e horários. Antes imutáveis, as reuniões trocam de vôo de modo nervoso. O trabalho passa violentamente rápido. Não há o medo de se proteger. A imaginação pára a escrita em um só nome.
Aconselho a quem não tem tempo: apaixone-se. Perca a cabeça na guilhotina. Entregue seus pés para a espuma. Permita a cintura subir como um chafariz. Não pense que vai dar errado. O que pode dar errado já aconteceu antes. Dentro do tempo.

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