domingo, 21 de setembro de 2008

Um amigo me visita e diz que sua filha, uma pré-adolescente, está bulímica. Sempre o mundo das aparências em luta com o chamado da "essência". Se a matéria é tão importante, por que quando morremos, ela se desfaz e mesmo se degenera na nossa velhice? Será a matéria assim tão importante ou vivemos mesmo, como na canção de George Harrison, "in a material world"-- como também disse Madona? O que seria do mundo se todos os que têm mil olhos para criticar peitos e bundas, narizes e alturas, roupas assim ou assado, acordassem para a realidade desse mundo real que aí está, de miséria (e miséria interior) e de guerras?

Se as pessoas fossem menos fúteis, menos materialistas, teríamos um mundo mais justo, por que mais pensado, criticado, realizado? Pessoas mais alegres, felizes, nas suas imperfeições? Seríamos mais rebeldes, mais críticos, usaríamos mais os nossos neurônios ao invés de tanto esmalte nas unhas e suor para comprar o carro do ano? E a quem interessa que este mundo seja mais justo, se assim eles ganham menos? Será que a magérrima teenager sabe disso, que essa beleza prometida de agora é a osteoporose de amanhã? E que este amanhã está mais perto do que a sua bobinha cabecinha consegue imaginar? Que o peso que deu à matéria não vai deixá-la ainda dormir, quando mais velha, pensando em pneuzinhos, estrias e tudo o que vem com a idade, dentro da normalidade da ordem do mundo? Da imperfeição do mundo? Por que é difícil aceitar a diferença e a imperfeição? Para quê compensação é essa necessidade de eterno ajuste na matéria? No que é visível? Por que a necessidade de (eterna) aprovação do olhar do outro? Por que o outro (e, nós mesmos) é sempre visto como objeto e não em sua complexidade de sentimentos, sensações, valores, princípios, beleza interior? Por que a estética está acima da ética?

São questões que se destacaram apenas na chamada era pós-industrial, fruto de um capitalismo com seus códigos materialistas que avassalam o mundo ou é um "desde sempre..."? Está, então, pior, após todas as Twiggis (acho que é assim que se escreve) e a mudança de parâmetro estético e de valores (uma modelo ganhando muitíssimo mais que um professor) nos anos sessenta? E por que todos vão como boizinhos a caminho do matadouro, sem pestanejar, para um futuro de presente tão triste e desumano? Um mundo de celulares, computadores, tortas maravilhosas de chocolate e adolescentes bulímicas e seus desafetos? Contradições, imposições, vazio. Vamos ver o que ainda está por vir.

Nenhum comentário: